memória

Um dos grandes desafios de se trabalhar fora de seu País de origem
é o fato de você ter de lidar com um novo você. Ninguém sabe quem é ,
onde estudou ,quem são seus pais, amigos,o aconchego de influências,
pois nada disso interessa . Você é aqui e agora. Você perde totalmente a referência ,
por algum tempo. É uma espécie de solitude extremamente enriquecedora.
Não tem nenhum ombro onde possa chorar quando nos sentimos contrariados.
É verdadeiramente quando nos perdemos é que nos encontramos em cheio- nada mais lógico , pois como achar o que não se perdeu ou nem mesmo procurou.
E é assim que grandes encontros acontecem.
Trabalhei com o sobrinho de um um grande cineasta Chamado Luchino Visconti.Além de uma experiência maravilhosa, tive a oportunidade de conhecer uma das moradas deste Gênio . Ele tinha uma grande casa na fronteira da Suissa, Itália e frança. Nas bordas do lago do Cuomo.
O que eu vi foi um exercício de estética uma certa sobriedade fascinante...
tudo tinha seu lugar, de muito bom gosto, tudo era beleza, sutileza , delicadeza, muitíssimo inspirador. Até a cozinha tinha uma elegância sóbria.Nada era demais ou chamava atenção por saltar aos olhos ou agressivo por ostentar sua fortuna. Olha que ele possuia uma incalculável...
Fiquei imaginando que este gênio do cinema devia ficar sentado na mesma cadeira em que eu me encontrava, tomando um darjeling sem açúcar enquanto pensava suas sequências de "LE Guepard " que prazer inigualável, insubstituível.
Guardo este aprendizado de como vive um verdadeiro artista e como ele mantinha uma certa distância do real para melhor poder retratá-lo. Afinal era o real imaginado, sonhado, este que nos revela tanto .
O próprio cotidiano é um ato de criação. A magia está no ordinário. Ser Artista é um estado.

Foi o que vi , como vi e me comovi!